“Do lince ibérico ao toiro de lide”



Eis um texto publicado no dia 22-12-2014 no CM, escrito pelo João Aranha e que aborda de uma forma muito direta todo o circo montado em torno da libertação dos linces.

 

A largada de um casal de linces para a natureza (?), que ocorreu no concelho de Mértola na passada semana, mereceu honras de televisão e detalhada difusão noutros meios mediáticos, mas deixou sem resposta algumas questões relevantes.

Quanto à sua condição de espécie ameaçada nada a opor já que nos anos 40 do século passado, altura em que me iniciei na caça desportiva, havia noticia de alguns poucos para os lados da Malcata e uns quantos numa herdade do maestro cavaleiro João Branco Nuncio, (creio que em Vale de Arca), que tinha fama de “avaro” na concessão de caçadas aos coelhos exactamente porque fazia gaudio de ali manter alguns linces.

Pessoalmente, e em muitas décadas de caçador calcorreando tudo quanto é lugar ,em Portugal e não só, nunca adreguei avistar algum. Penso que o belo felino carnívoro foi desaparecendo por via de causas naturais, tais como a deflorestação, o arroteamento do mato para novas formas de cultivo ,as alterações climáticas, a mixomatose (“importada” da Australia, onde o coelho era praga por um medico idiota do sul de França) a qual foi dizimando milhões de coelhos bravos em toda a Ibéria), e também de algum descuido de quem geria a terra.

Estas condições adversas têm vindo a agravar-se, e, conjuntamente com a “febre hemorrágica”, (que está a dizimar milhões de coelhos e lebres), serão escassas as probabilidades de sobrevivência de linces criados em cativeiro, alimentados ” à mão” com coelhos mansos, (para já uma selvajaria), e sem treino na arte de caçar os poucos bravos que vão resistindo. A boa intenção, muito provavelmente nascida em meio urbano por gente “sonhadora” e cientificamente preparada, mas manifestamente desfasada da realidade rustica e do que nela está a acontecer, tem custos não desprezíveis, e estará, muito provavelmente ,condenada a insucesso.

E ao que vem o toiro de lide, preguntará quem ler estas linhas? Simplesmente porque é meu parecer que, entre uns quantos que exultaram com o espectáculo mediático da largada dos linces para um “estágio” dentro de uma “aramada” onde os coelhos não têm defesa, e onde os linces não vão aprender a caçar na natureza, estarão alguns dos tais “anti touradas” que são pela extinção do “bos taurus ibericus”. Outro belo animal da criação, hoje resistindo como toiro bravo, mercê da afición de quem o cria, da arte de quem o lida na arena, e da palavra de quem o defende contra campanhas fundamentalistas desinformadas e até “protegidas” pelo mediatismo fácil de alguns meios.

E como estamos no Natal vem a calhar falar das famílias que vivem do toiro e juntar os meus votos de Boas Festas para os que me lêem e também para os outros.

Fonte: CM/João Aranha



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