Galinhola (Scolopax Rusticola)



A Galinhola é uma ave de tamanho médio, com uma envergadura que pode variar entre 56 a 60 cm. O seu peso pode variar de 220 a 420 g. Apresenta um corpo de aspecto maciço, com o pescoço e patas curtos. O bico é comprido (± 7 cm), a cauda é curta e arredondada, os olhos estão numa posição alta e “periscópica”, o que lhe permite um campo de visão de quase 360º.

A sua plumagem confere-lhe uma grande capacidade de camuflagem. Na cabeça apresenta largas barras transversais, pretas. A distinção entre macho e fêmea não é possível pela análise da plumagem ou de qualquer outra característica morfológica externa.

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A vasta área de distribuição da Galinhola abrange, essencialmente, os continentes Europeu e Asiático, existindo alguma sobreposição entre as áreas de reprodução e invernada . A maioria das aves é migradora, mas, em algumas regiões, parte do efectivo populacional é residente. Em Portugal continental a Galinhola só está presente durante o Outono e Inverno mas nos arquipélagos dos Açores e Madeira é residente.

As aves da Escandinávia e algumas do Ocidente da Rússia são migradoras de longa distância, invernando na Europa Ocidental e Meridional e no Norte de África . Pelo contrário, as aves das Ilhas Britânicas, França e Península Ibérica são residentes ou migradoras de curta distância.

A migração é efectuada durante a noite, individualmente ou em pequenos grupos (Fadat, 1995). A cronologia migratória é bastante influenciada pelo clima, de forma que a migração pós-nupcial (ou outonal) se inicia com as primeiras vagas de frio, e o regresso às áreas de reprodução (migração pré-nupcial ou primaveril) pode ocorrer mais cedo se os Invernos forem suaves.galinmigracao

Na Península Ibérica (sobretudo região cantábrica), as primeiras galinholas chegam entre a segunda e terceira semanas de Outubro, mas as grandes vagas migratórias pós-nupciais só ocorrem em Novembro/início de Dezembro (Lucio et al., 1993; Ballesteros, 1998); a migração primaveril, normalmente, inicia-se entre o final de Fevereiro e o início de Março.

No Verão, é possível que ocorram movimentos com alguma importância (Fadat, 1995). Este fenómeno foi observado nas Ilhas Britânicas e em França, e parece ser desencadeado pela escassez de alimento. Este tipo de movimentos também ocorre no Inverno, durante vagas de frio, que podem ser responsáveis por uma considerável mortalidade (Allou et al., 1988; Fadat, 1995).

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Habitat e alimentação

Durante a época de reprodução, a Galinhola prefere florestas húmidas, cobertas de vegetação rasteira ou de pequenos arbustos. Alguns estudos (Hirons & Johnson, 1987; Hoodless & Hirons, 2007) demonstraram que existe uma forte relação entre o habitat escolhido e a abundância de anelídeos (sobretudo minhocas). Durante esta época a Galinhola alimenta-se essencialmente ao crepúsculo e repousa à noite, sempre em áreas florestais.

Na época de invernada, selecciona o mesmo tipo de habitats, mas não é tão exigente. Nem todos os habitats são adequados para a busca de alimento, havendo alguns que são utilizados exclusivamente como refúgio (Duriez, 2005a,b). Durante o dia, a Galinhola permanece escondida em meio florestal ou em sebes e, ao entardecer, desloca-se para meios mais abertos para se alimentar (pastagens, prados, etc.). Ao amanhecer regressa ao seu refúgio diurno.

Os indivíduos adultos ocupam as melhores áreas de invernada, enquanto os jovens, que migram pela primeira vez, são frequentemente observados fora dos habitats típicos, sobretudo durante Outubro e início de Novembro (Fadat, 1995).

A distribuição e densidades desta espécie são também afectadas pela seca e pelo frio (Fadat, 1995). Quando a pluviosidade é forte e a temperatura amena o alimento é abundante, pelo que as galinholas se distribuem de forma homogénea no espaço, em densidades relativamente baixas. Uma pluviosidade fraca provoca uma redução no acesso ao alimento, levando à concentração de aves nas zonas mais húmidas; a distribuição é então mais irregular e as densidades muito variáveis.

A Galinhola alimenta-se no solo, por “sondagem”, e capturando presas à superfície; a mandíbula superior é articulada na parte terminal, permitindo que o bico funcione como uma pinça. Consome grandes quantidades de anelídeos, mas também alguns artrópodes, como larvas e adultos de insectos, miriápodes, aracnídeos e pequenos crustáceos. A sua dieta também inclui uma porção vegetal, composta por pedaços de folhas, frutos e pequenas sementes (Granval, 1988; Fadat, 1995; Duriez, 2003; Hoodless & Hirons, 2007). A proporção dos diferentes alimentos varia segundo a região, a estação do ano e a sua abundância relativa (Granval, 1988).

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Reprodução

O período reprodutivo da Galinhola estende-se, de uma forma geral, de Fevereiro a Agosto (Hirons, 1983; Ferrand 1993; Marcström, 1994; Hoodless & Coulson, 1998; Machado et al., 2002, 2006; Gonçalves et al., 2004). O pico de posturas ocorre desde Março, nas regiões mais a Sudoeste da sua área de reprodução, até Maio, nas regiões mais a Nordeste (Ferrand & Gossmann, 2001).

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Os machos executam voos de exibição, ao amanhecer e ao entardecer, com o objectivo de encontrar fêmeas e não para marcação de territórios (Hirons, 1980, 1983).

O sistema de acasalamento adoptado pela espécie é a monogamia sucessiva: quando um macho encontra uma fêmea receptiva fica junto dela alguns dias, apenas até à postura dos ovos, retomando depois os voos de exibição. Deste modo, o mesmo macho pode acasalar com várias fêmeas, sucessivamente, durante uma única época de reprodução (Hirons, 1980, 1983).

A fêmea escolhe a localização do ninho e assegura sozinha a incubação e a criação da ninhada. O ninho é uma simples depressão no solo. A postura é geralmente de 4 ovos, podendo variar entre 2 e 5. A incubação dura cerca de 21 a 22 dias. A eclosão dos ovos é quase simultânea e as crias abandonam rapidamente o ninho (são nidífugas). A fêmea acompanha a ninhada durante 3 a 6 semanas (Cramp & Simmons, 1983; Ferrand, 1989).

Os juvenis crescem rapidamente, atingindo o tamanho de um adulto aos três meses de idade. No continente Europeu, o sucesso das posturas foi estimado em 2,2 a 2,3 jovens voadores por ninho. Segundo Fadat (1995), a predação dos ninhos será responsável pela perda de 35 a 50% das posturas. Se a primeira postura é destruída, a Galinhola pode fazer uma outra postura (“de substituição”; Hirons, 1983).

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Tendências populacionais

A Galinhola é uma espécie cinegética muito importante na Europa, encontrando-se sujeita a uma forte e crescente pressão de caça.

O tamanho das populações de Galinhola e as respectivas tendências permanecem mal conhecidos na Europa, excepto em França (Gossmann et al, 2008; Boidot et al, 2008) e na Suíça (Estopey, 2001a,b), onde a monitorização tem sido realizada. Em 2004 a BirdLife International (2004), de forma provisória, considerava que a Galinhola, a nível europeu, estava “em declínio”. Posteriormente, em 2006, a Wetlands International (2006) classificou-a como “estável”. Em Portugal, na última edição do “Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal” (Cabral et al., 2005), à Galinhola são atribuídas as categorias “Informação Insuficiente” (DD) no continente e Açores, e “Vulnerável” (VU) na Madeira.

Embora existam poucos dados quantitativos, alguns indícios apontam para que a pressão cinegética tenha aumentado nas últimas décadas, em resultado também da escassez de outras espécies de caça menor, como perdizes e coelhos (Ferrand & Gossmann, 2000). Na Europa, todos os anos são abatidas na caça entre 3 a 4 milhões de galinholas, das quais 80% serão caçadas num conjunto de três países (Ferrand & Gossmann, 2001): França (1,2 a 1,3 milhões de aves), Itália (0,5 a 1,5 milhões) e Grécia (0,45 a 0,55 milhões). Na maior parte dos países, incluindo Portugal, não existem estimativas fiáveis do número de aves caçadas anualmente.

O conhecimento das taxas de sobrevivência da Galinhola é essencial para a definição de práticas de gestão sustentável. Na Grã-Bretanha, a taxa de sobrevivência foi estimada em 47% para os jovens (aves com menos de um ano de vida) e 58% para os adultos (Hoodless & Coulson, 1994). Para as aves invernantes em França, os valores estimados por Tavecchia et al. (2002) são mais baixos: 34% para os jovens e 44% para os adultos; a esperança de vida média para o adulto será de 1,25 anos.



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