SERÁ QUE O URSO VAI REGRESSAR A PORTUGAL?



Já não faz parte do nosso imaginário popular, mas o urso-pardo foi durante séculos um animal icónico em Portugal. E agora que anda a rondar as nossas fronteiras – recentemente foi visto a poucas dezenas de quilómetros de Vinhais, Trás-os-Montes -, é lançado um livro sobre a história portuguesa do icónico predador.

Até agora, julgava-se que urso-pardo desaparecera de vez do nosso País há quase 400 anos, em meados do século XVII. Mas agora sabemos que a extinção é muito mais recente: o último urso foi abatido, numa montaria de populares, há 147 anos, a 2 de dezembro de 1843, na Serra da Mourela, no Gerês; o corpo do animal foi depois levado para Montalegre, para ser exibido. A história é contada no livro Urso-pardo em Portugal – Crónica de uma Extinção (Editorial Bizâncio, 194 páginas, €27,5, em versão bilingue português-inglês), com textos e fotos de Paulo Caetano e Miguel Brandão Pimenta, uma obra que aborda todo o mundo português do urso, das lendas e mitos à arqueologia e toponímia. “Procurámos as fontes históricas e descobrimos uma breve na Revista Universal Lisbonense do final desse mês de dezembro a dar notícia disso. E essa é uma das grandes novidades do livro”, conta Paulo Caetano, ex-jornalista especializado em conservação da Natureza.

Esse urso, no entanto, seria já um animal errante, que se aventurou para o lado de cá da fronteira (ainda hoje há uma população considerável no norte de Espanha). Enquanto espécie com uma população reprodutora no nosso país, ter-se-á extinguido no século XVII. “Desapareceu devido a vários fatores: o fogo, a destruição dos carvalhais, que foram sendo substituídos por pinhais e eucaliptais para alimentar a indústria naval, a introdução do milho americano em Trás-os-Montes no século XVI, a produção de carvão, as necessidades da pastorícia”, explica.

Atualmente, a história parece a um passo de se repetir (sem, espera-se, o mesmo final trágico) – as populações de ursos da Cantábria e das Astúrias têm-se dispersado, havendo relatos de aproximações da nossa fronteira norte. Um animal terá mesmo sido visto a umas parcas dezenas de quilómetros de Portugal, acima do concelho transmontano de Vinhais. É previsível que, um dia, um destes animais atravesse a linha imaginária entre os dois países. Mas não terá grande sorte do lado de cá, avisa o co-autor do livro. “O que levou a espécie à extinção mantém-se. Não temos bosques ricos, com maçãs bravias, e a desertificação do interior não está a permitir o rejuvenescimento do bosque de carvalho. As pessoas abandonam essas regiões, mas continua a apostar-se na monocultura de pinheiro e eucalipto.”

Não que houvesse alguma coisa a temer com a presença do enorme omnívoro. “Nós temos lobos, e o lobo até é mais perigoso, porque se aproxima das populações para atacar o gado”, diz Paulo Caetano. “Nas Astúrias, por exemplo, o problema causados pelos ursos são os ataques às colmeias, mas há um esquema de indemnizações aos produtores para esses casos. A população convive pacificamente com os ursos.”

Este urso (um macho adulto) foi fotografado nas Astúrias, norte de Espanha. Alguns animais dessa região já começam a aproximar-se de Portugal

Foto: Paulo Caetano

Fonte: Visão



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