Veado (Cervus Elaphus)



Os Veados são os mamíferos de maior porte e dimensão existentes actualmente na Europa Ocidental. Segundo os Paleontologistas estes animais apareceram à cerca de 30 milhões de anos na Ásia Central, com características morfológicas muito diferentes das actuais.

Por essas épocas ainda não eram providos de hastes ramificadas. A evolução para o aspecto actual só se iniciou à cerca de 10 milhões de anos, momento a partir do qual se começaram a espalhar pelo resto do mundo. Apresentam o aspecto actual desde à 250 000 anos.

Os cientistas explicam o aparecimento das hastes (baseando-se no modelo evolucionista de Darwin), pela necessidade destes mamíferos se defrontarem à cabeçada, facto que primeiro levou ao endurecimento do osso frontal e à formação de protuberâncias (calos) que evoluíram, ao longo dos séculos, para as formações ramificadas que actualmente conhecemos.

Revelam ainda uma outra característica, designada por dimorfismo sexual, isto é, há características físicas diferentes nos machos e nas fêmeas: só os machos são portadores de hastes. E esta é uma característica patente em todos os cervídeos (gamos, corços e restantes subespécies de veados).

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Na sua proliferação espacial ao longo de milénios, os veados aproveitaram-se da existência de um continente único ( Pangêa) para se difundirem através de todo ele. Mais tarde com a separação das diferentes placas continentais que originaram os actuais continentes, o veado adaptou-se às características de cada biótipo e originou várias subespécies, todas elas derivadas do mesmo padrão biológico. É o caso do Wapiti (Elk), do Cervo Mulo (Mule Deer), do Cervo de Cauda Branca (White Tail Deer) existentes ao longo de todo o continente americano, para referir apenas algumas subespécies existentes.

Na Europa as subespécies são, para além do padrão original, o gamo e o corço, as quais revelam características físicas e comportamentais muito semelhantes à do Cervus Elaphus.

E na origem do aparecimento das diferentes subespécies esteve (mais uma vez segundo Darwin) a capacidade de adaptação do nosso veado. Preferindo as zonas florestadas ou de coberto vegetal denso, onde tem protecção contra o clima e a alimentação variada que necessita como herbívoro ruminante, encontrou no bosque mediterrânico da península ibérica e nas matas florestais da Europa Central o biótipo ideal para a sua fixação e desenvolvimento. Este mamífero atinge um peso bruto médio, em vivo, de cerca de 150 kg na Europa Ocidental podendo este valor atingir os 300 kg nos países da Europa Central e de Leste. Aliás, no que se refere às diferentes espécies de caça maior, o factor clima e consequentemente os factores qualidade e disponibilidade de alimento fazem com que a corpulência dos diferentes animais aumente progressivamente à medida que, no espaço Europeu, se caminha para Oriente. Vive em média cerca de 15 anos e atinge a maturidade sexual por volta dos 16/20 meses de idade. As fêmeas parem, normalmente, uma cria por ano, não sendo raras as parições gémeas; contudo, a taxa de sobrevivência dos gémeos e bastante baixa quando comparada com a das crias únicas.

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Apesar da sua capacidade de adaptação esta espécie é também muito sensível ás condições fitossanitárias, sofrendo intensamente as consequências de uma alimentação insuficiente ou sem qualidade. Os animais perdem peso com muita facilidade, tornam-se débeis e padecem das maleitas mais vulgares dos animais bravios – parasitismos internos e externos, tuberculose, etc . A recuperação destes desequilíbrios é por sua vez lenta e deixa, frequentemente, sequelas irreparáveis. Estes factores do meio reflectem-se na qualidade dos troféus: uma população cervídeos confinada a uma área fechada em que a alimentação seja insuficiente ou deficiente, nunca terá animais com troféus de qualidade.

Outra condicionante da qualidade dos troféus, esta frequentemente esquecida pela maioria dos gestores de caça, é a consanguinidade. Este factor é frequente nas áreas fechadas onde as populações se reproduzem, anos a fio, através de animais do mesmo sangue. Para superar esta condicionante recomenda-se a introdução de novos indivíduos (machos e ou fêmeas) provenientes de regiões diferentes da origem dos primeiros indivíduos, a cada 5 anos. Por outro lado, dado a mobilidade da espécie, em zonas abertas este factor não actua, sendo de descorar a sua influência na qualidade dos troféus.

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Os veados evidenciam ainda um carácter gregário, patente na constituição de grupos sociais separados por sexos. Os machos juntam-se em grupos de indivíduos de diferentes idades, enquanto as fêmeas se reúnem em grupos familiares mais ou menos extensos, constituídos pelas mães e respectivas crias do ano e ano anterior, liderados pela cerva mais velha, a qual conduz e protege o grupo.

Em Portugal, a espécie esteve extinta – em zonas abertas – durante os primeiros 3/4 do século XX. As poucas e raras observações de veados, em terreno livre (assim se designou até à bem pouco tempo), ocorriam em zonas fronteiriças com Espanha ( Bragança, Castelo Branco e Barrancos), enquanto nalgumas áreas muradas os exemplares existentes e até então aí conservados definhavam à mingua de gestão, de alimento em qualidade e de sobredensidade. No entanto, na vizinha Espanha, a espécie esteve sempre presente e o veado foi a principal captura de caça maior ao longo de todo o século passado, fosse em Montaria fosse em caça de aproximação ou eventualmente de espera.

Enquanto espécie de caça, o veado fez e satisfez as emoções de milhares de caçadores, primeiro pela qualidade da sua carne e depois pelo tipo e qualidade do seu troféu. Volta a salientar-se que a caça maior é, fundamentalmente, uma caça de troféu e não uma caça de abastecimento de carne. E sobre este assunto cabe fazer a distinção entre os países da Europa do Norte ( Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca) e os da Europa Central e do Sul. Para os primeiros a caça maior constitui uma fonte primordial de alimentação (baseada no armazenamento temporário para consumo próprio), acima de tudo por questão cultural e de gestão de recursos naturais disponíveis, (mas também porque nestes países a caça é propriedade do dono da terra e há neles um respeito enorme pela propriedade privada), e nos segundos a importância é posta na qualidade do troféu e no acto de caça, pelo que o valor comercial pende para a vertente turística. Nos países do Norte, o valor da carcaça do animal caçado é bem superior (felizmente para nós turistas cinegéticos) ao valor que cobram ao caçador pela sua taxa de abate. No resto da Europa a carne, actualmente, pouco ou quase nenhum valor tem e a qualidade do troféu é paga (taxa de abate) a peso de ouro. E este modelo turístico é característico dos continentes europeu e africano, enquanto que no continente americano (Canadá, América do Norte e Central e América do Sul) se adopta um modelo misto de caça de troféu (para turismo cinegético) e de consumo de carne na prática da caça não comercial.

Em Portugal, a caça ao veado tem um valor comercial e emocional elevado. Os processos de caça a esta espécie são, fundamentalmente, a Montaria – aqui o valor comercial dos postos duplica quando se pode atirar aos veados – e a Aproximação, normalmente destinada á caça de troféus na época da brama (cio) – e nesta os valores por unidade animal cobrada são ainda mais elevados. Estes factos levam-nos a considerar cuidadosamente a evolução do troféu (só existente nos machos, repete-se), tal como a observação no campo e no momento de caça já que, de acordo com a posição em que o animal se encontra, se torna mais fácil ou difícil a sua apreciação e julgamento (são vulgares os erros de julgamento, quando não se tem muita experiência nesta área).

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LEGENDA
1 – Tronco Principal ; 2 – Coroa; 3 – Estoque; 4 – Contraestoque; 5 – Ponta Intermédia; 6 – Pivot; 7 – Roseta; 8 – Tronco
a e b – 1ª Cabeça (Vareto); c e d – 2ª Cabeça; e, f e g – 3 ª Cabeça; h – 4ª Cabeça; i – 5ª Cabeça; j – 6ª Cabeça

A imagem acima apresenta a constituição e a evolução do troféu do veado escalonado pelas diferentes classe de idade. Assim, quando se indica uma “2ª cabeça” estamos a referir-nos a um animal de 3 anos de idade. No primeiro ano de vida a identificação do sexo dos jovens torna-se muito difícil já que as pequenas hastes dos machos apenas se tornam visíveis entre os 8 e os 12 meses, sendo que a “primeira cabeça” identificável só se observa a partir de um ano de idade. Nestes termos uma primeira cabeça corresponderá, no mínimo, a ano e meio de de vida do animal. Atente-se no facto das hastes dos cervídeos terem a particularidade de, todos os anos, caírem ( Fevereiro/Março) e voltarem a crescer num espaço de tempo muito curto (cerca de 4 a 5 meses, dependendo da condição física e sanitária dos animais).

Face ao que se referiu, importa salientar que qualquer veado só terá um troféu de qualidade a partir dos 9 ou10 anos de idade. Apesar do crescimento das hastes atingir a sua envergadura total por volta dos 6 anos, os tempos vindouros proporcionarão ao veado um engrossar progressivo dos troncos das hastes bem como um possível aumento do número de pontas na coroa.

E como se determina exactamente a idade de um veado?

Tal como a Biologia refere esta determinação só é real e exacta através da análise dos sedimentos de crescimento dos dentes molares do animal. Para tal seria necessário extrair o dente e cortá-lo longitudinalmente para, através de uma lupa binocular, se poderem observar os sedimentos depositados em cada ano ( oito estratos = a oito anos). Por outro lado, existe um outro processo de resultado aproximado, e que nos permite conhecer, não a idade exacta do veado, mas pelo menos a sua classe de idade: se é jovem (até 3-4 anos de idade) se é adulto (4 a 10 anos de idade) ou se é maduro (mais de 10 anos de idade). Trata-se da apreciação dos desmogues (hastes que os veados perdem todos os anos) encontrados no campo e correspondente análise dos seus pivots.

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1 – Implante do pivot de um jovem; 2 – Implante do Pivot de um adulto; 3 – Implante do Pivot de um maduro

Sobre a sua caça, remetemos os visitantes para o que se mencionou na caça de Aproximação (por ser esta a mais adequada e usada para a obtenção de veados de troféu) e na Montaria ( sendo este o segundo processo mais utilizado). Convém apenas deixar uma referência às marcas de presença, para facilitar a quem anda no campo a identificação dos sinais de existência destes animais.

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Representação do rasto do veado: a – a passo; b – a galope

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Desmogue

Contrariamente ao javali e devido a todas as fragilidades enunciadas, o veado é uma animal que, normalmente, enfraquece rapidamente quando atingido a tiro. Pelas suas dimensões (altura ao garrote, peso e volume) deixa vestígios nítidos de ter sido atingido, pelo que a sua busca e cobro se tornam relativamente fáceis. Quando não ferido de morte, a tendência do animal é, numa primeira fase, de fuga rápida e repentina, mas logo que se sente minimamente seguro abranda o passo e pára, numa tentativa de recuperar as forças; por vezes deita-se em qualquer lugar – normalmente em zonas abertas – e aí morre. Por tanto e para além de constituir um dever de qualquer monteiro procurar e cobrar um animal ferido, torna-se imperativo cumprir com este dever no caso específico dos veados e sempre que haja o mínimo indício de ferimento. Exceptuam-se desta regra os casos dos tiros de pata, uma vez que os animais feridos desta forma conseguem deslocar-se kilómetros sem que as suas forças enfraqueçam. Por estes motivos, não se considera necessário apresentar as reacções do animal ao tiro.

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Finalmente e sobre os calibres mais adequados para a caça do veado, repetimos o que se mencionou para o caso do Javali: a partir do . 243 W todos servem, dependendo do gosto e habilidade do caçador. Pessoalmente e para evitar trabalhos de busca e cobro, utilizo um 30.06 em Montaria (mais do que suficiente se deixarmos “cumprir”), um .300 Magnum em aproximações de troféu e desbaste (porque por vezes é necessário atirar a 200 ou muitos mais metros) e finalmente o .243 em caça de espera à água ou ao cevador (porque se atira relativamente perto, com o animal descansado e se coloca o tiro onde se quer); e até hoje ainda não me ficou nenhum veado por cobrar.



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